Discordância e abstenção

O Bloco de Esquerda mudou radicalmente de ideias no prazo de cinco dias.
De sábado para quinta-feira.
E anunciou a apresentação de uma moção de censura ao Governo.
Data - 10 de Março, o dia seguinte ao da tomada de posse do Presidente da República reeleito.
Sabendo-se que a moção de censura é um dos instrumentos de controlo político do Governo à disposição da Assembleia da República;
 que normalmente incide sobre a execução do programa do Governo ou sobre assunto de relevante interesse nacional;
 que a aprovação de uma moção de censura, por maioria absoluta (equivalente ao mínimo de 116 deputados) implica a demissão do Governo;
e que este é um número que o Bloco de Esquerda sabe perfeitamente que nunca alcançará;
fica a pergunta - o que pretende então o Bloco de Esquerda com esta iniciativa?
Acompanho os politólogos portugueses que apontam dois objectivos primordiais:
1)Liderar, à esquerda, o processo de contestação ao Governo, antecipando-se ao PCP;
2)Descolar-se do PS após as eleições presidencais e o apoio conjunto a Manuel Alegre.
Permito-me acrescentar um outro, facilmente detectável na data escolhida - deixar um sinal claro ao Presidente da República.
Se não lançar a "bomba atómica" poderá ser visto como co-responsável pelas trapalhadas do Governo.
Mais uma vez, politiquice pura.
E uma inicitiva claramente disparatada e tonta.
Esta aventura do Bloco de Esquerda não me surpreende.
Já me surpreende a reacção dos dois partidos à direita do PS.
Quando esperava de ambos uma clara descolagem desta iniciativa tonta, o que implicaria um claro repúdio da mesma, PSD e CDS anunciam a intenção de se abster aquando da votação.
A abstenção, se o acordo ortográfico não mudou o sentido do vocábulo, não conforma um juízo negativo.
E era um juízo negativo que esperava da parte de PSD e CDS.
Porque a iniciativa surge de um partido que representa o oposto das soluções ideológicas que estes dois partidos apresentam, porque é uma iniciativa descabida e com objectivos políticos de alcance nulo.
Com esta abstenção, ou muito me engano, ou Pedro Passos Coelho e Paulo Portas vão ouvir muito boa gente dizer-lhes que só não votam favoravelmente a iniciativa do Bloco porque sentem que a tomada do poder ainda não é um dado seguro.
E esse é um sinal muito mau para passar a uma opinião pública revoltada com o cenário de crise que se vive.
Não estamos a viver tempos favoráveis a politquices e a politiqueiros.
Mais, entrar por esse caminho é suicidário.
Nesse terreno, Sócrates ainda é rei.

Comentários

  1. O BE pretende mostrar mais uma vez como é um partido inútil e irresponsável.
    Abraço

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  2. O que o BE pretende, não sei, mas tenho quase a certeza que a moção, além de favorecer Sócrates, vai ter um efeito boomerang que estilhaçará o Bloco num próximo acto eleitoral

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  3. Completamente de acordo, Carlos.
    A irresponsabilidade paga-se caro.
    Um abraço

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