Navegação à vista leva os portugueses até Espanha, e a Lei Bosman ajuda a explicar as surpresas e desilusões

Vem aí o mata-mata.
E começa com a Espanha atravessada no caminho de Portugal.
Portugal que ontem apresentou defeitos e qualidades, praticamente na mesma proporção, no empate (0-0) com om Brasil.
O seleccionador português resolveu ser "criativo" novamente.
Ricardo Costa foi o terceiro jogador a ser testado na posição de lateral direito.
A ideia era travar as investidas de Robinho (faz diagonais partindo da linha para o meio), mas o brasileiro nem do banco saíu.
Quem jogou foi Nilmar, que fez a cabeça de Ricardo Costa em água.
Também não ajudou ter à frente um esquerdino (Duda) claramente deslocado e sem categoria para jogar na selecção portuguesa.
Categoria que é algo que Danny também não tem.
Falta Pepe, claramente fora de forma (quem está seis meses sem jogar....) e nervoso.
Valha-nos a segurança e calma de Eduardo, Ricardo Carvalho e Bruno Alves, a raça sem fim do puto Fábio Coentrão (que jogador se tornou este garoto!!), o trabalho de sapa de Maireles, Tiago, Ronaldo (um profissional a sério para andar naquela missão de sacrifício), mais tarde ajudados por Pedro Mendes, Simão (muito bom jogo) e Miguel Veloso.
E a pouca inspiração dos brasileiros.
Portugal jogou para não perder (outra vez!), mas o Brasil também não teve arte nem engenho para ganhar.
Sem Kaká, os brasileiros fizeram um jogo muito previsível, lento, aborrecido.
Dunga queixa-se de quê, ou de quem?
Num dos jogos mais fracos deste Mundial, o resultado tinha que ser o 0-0.
Até porque, se há uma grande qualidade que esta selecção portuguesa apresenta é ser excelente no processo defensivo.
E o que se temia, e previa, aconteceu.
A Espanha ganhou ao Chile e vai agora ser o adversário de Portugal nos oitavos-de-final.
Os golos de David Villa e Iniesta colocaram os espanhóis no caminho de Portugal.
As invenções, e o calculismo, de Carlos Queiroz, deram nisto.
Fica o Brasil a rir porque vai defrontar uma selecção do Chile claramente bem mais acessível que os espanhóis.
Castigo merecido (a eliminação) para os suíços, que não foram além do empate com as Honduras (0-0).
Duas equipas muito fracas que não mereciam a passagem à fase seguinte.
O jogo de ontem confirmou as debilidades de ambos e o mais que merecido regresso a casa.
Castigo que os marfinenses também fizeram por merecer.
A vitória (3-0) sobre os norte-coreanos (a selecção mais débil presente neste Mundial) constituiu apenas um prémio de consolação.


Terminada a primeira fase, às grandes desilusões França e Itália, juntou-se a desilusão colectiva africana (o Gana é a honrosa excepção), a ascenção sul-americana e da zona da CONCACAF (México e Estados Unidos), bem como a confirmação do potencial dos gigantes asiáticos (Coreia do Sul e Japão).
Se formos procurar as razões para este cenário, é bom olharmos para uma decisão do Tribunal Europeu, favorável a um obscuro futebolista belga (Marc Bosman), que, na sequência do principio da livre circulação dos cidadãos no espaço da União, alargou e aplicou o mesmo ao futebol.
Sem discutir os méritos de tal decisão, o que resultou da mesma foi a possibilidade de os clubes se apresentarem, tantas vezes, sem quaisquer jogadores nacionais nas principais equipas.
Especialmente nas principais equipas, nas que têm maior potencial financeiro. 
Basta olhar para Inglaterra e Itália para facilmente se detectar tal fenómeno.
Não surpreende assim que, ingleses e italianos, se apresentem com grandes dificuldades de renovação dos quadros das suas selecções.
O mesmo que acontece com os franceses, mas estes em sentido oposto.
Os franceses tornaram-se exportadores de jogadores, perderam o sentido de colectivo, não têm um líder dentro campo (um Platini ou Zidane), e também não têm um líder no banco.
Portugal é "vítima" dessa tendência apenas em posições específicas do campo.
O ponta-de-lança, a posição "6", o lado esquerdo da defesa (a adaptação de Coentrão, sendo um sucesso, não deixa de ser uma adaptação).
Na Europa, a grande excepção a esta tendência é a Espanha.
Atrai os melhores jogadores do Mundo mas vai continuando a formar e a lançar grandes jogadores.
Isto para já não falar nas escolas holandesa e alemã.
Curioso é verificar que as ondas da "Lei Bosman" se espalharam pelo Mundo.
As portas dos grandes clubes europeus abriram-se a jogadores das Américas, muitos deles descendentes dos antigos colonizadores europeus e, como tal, detentores de passaporte europeu.
Sendo detentores de passaporte europeu, não são contabilizados como estrangeiros e abrem as portas aos jogadores africanos e asiáticos.
Crescem as opções, e a experiência, nos continentes americano, africano e asiático, ao mesmo tempo que minguam no espaço europeu.
E começam, como acontece sempre nestas situações, a ouvir-se algumas vozes a apelar ao proteccionismo e ao regresso à obrigatoriedade de as equipas europeias terem nos seus quadros um número mínimo de jogadores nacionais.
Algo que, confesso, não sei como se vai poder compaginar com o princípio de liberdade de circulação de pessoas no espaço da União Europeia que esteve na base da "Lei Bosman.

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