O Café da minha juventude

O desafio que o Carlos lança no seu Crónicas do Rochedo (vão lá visitar que vale a pena!) é um desafio muito curioso, uma ideia feliz.
Escrever um pouco sobre o "nosso" Café.
Toda a gente teve o "seu" Café.
São até famosas algumas tertúlias que geraram e se cimentaram à volta de um Café.
O "meu" Café é o Nicola, situado na Rua Ferreira Borges, em Coimbra.
Recordo-me que entrei lá pela primeira vez, teria então 15 anos, na companhia de dois amigos, um dos quais precocemente falecido num estúpido acidente de viação.
O Nicola era então um espaço algo conceituado, até exclusivo, na Baixa de Coimbra.
Como em todas as situações, à primeira vez estamos um pouco nervosos.
Mas o ambiente agradou.
O espaço, no primeiro andar, embora fosse pequeno, era atractivo e o grupo de habituais frequentadores era gente bem disposta.
Comecei a frequentar o Café com assiduidade, tal como outros amigos.
E os amigos traziam mais amigos e amigas.
Sem nos apercebermos, a ida ao Nicola passou a ser praticamente obrigatória.
Era ali que a malta se encontrava.
Na época, a Rua Ferreira Boges ainda estava aberta ao trânsito, e não havia a esplanada que agora se vê na foto.
Como tal, quando não havia vontade de consumir, ou dinheiro!, ficávamos muitas vezes ali encostados à porta, a conversar, a "cuscar", a passar tempo entre amigos.
O hábito da ida diária ao Nicola já estava enraizado.
Mais jovens, depois das aulas no liceu, durante a semana; antes de ir para a discoteca ou para os pubs, ao fim-de-semana.
Já na Faculdade, normalmente depois das aulas.
Mas, algumas vezes, antes de subir o Quebra-Costas, nem que fosse para ver o Gastão beber 3 cervejas às oito da manhã (não sei o que é feito do Gastão e do fígado dele!).
Ficaram ali gravadas amizades que preservo e que sei que vou preservar para o resto da vida.
Mais, entre as amizades que ali se criaram e desenvolveram, algumas deram em paixão, as paixões em uniões, e as uniões em garotada, alguma já crescidinha, provavelmente já com o "seu Nicola" para contar.
Estou a viver em Macau há quase 15 anos.
Quando vou a Portugal, a Coimbra, lá passo pelo Nicola.
E estou, o mais possível, com a "malta do Nicola".
O que é mais curioso é que não havia nada que, objectivamente, pudesse atrair no Nicola.
O café até era mauzinho, a pastelaria não era nada de especial.
O espaço não tinha a beleza, a história e a tradição de uma Brasileira, do Nicola de Lisboa, do Majestic do Porto, não tinha a pastelaria da Pastelaria Suíca.
Quantas vezes não fomos comer e beber noutros locais!
Mas voltávamos sempre ao Nicola, ao aconchego que só o Nicola proporcionava.
Porque não era de bolos e café que se tratava.
Era de grandes amigos, de grandes amizades.
E esses estavam todos no Nicola.
Abreijos à malta do Nicola.

Comentários

  1. Muito obrigado pela participação, Pedro.
    No breve período que vivi em Coimbra, o meu café era o Avenida, mas entrei algumas vezes em Nicola. Como na última vez que fui a Coimbra, no Verão passado.

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  2. O Avenida também constava do roteiro.
    Mas este era o o eleito.
    Abraço

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  3. Que bela homenagem feita por palavras tão carregadas de saudade a um lugar tão importante para si. Penso que todos nós temos um Nicola, infelizmente o meu já nem existe, mas também não era o café que lá me levava, mas sim o calor humanos da amizade, algumas delas que se perderam no tempo...

    Adorei o seu Post e gostei do seu cantinho, virei mais vezes.

    Um abraço, Ava.

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  4. Olá Ava.
    É exactamente aquilo que refere - aquele espaço era especial por causa das pessoas que o frequentavam.
    Muitos deles são amigos que vão ficar comigo para sempre.
    Mesmo a 16 000 quilómetros de distância.
    Volte sempre.

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