Sondagem diagnostica desilusão ambivalente

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Política


Sondagem RTP aponta para vitória do PS em cenário de eleições

Aumentou o número de pessoas que diz que votaria no Partido Socialista caso hoje se realizassem eleições, concluiu o barómetro da Universidade Católica para a RTP. Também aumentou o número daquelas que entendem que o Governo está a governar pior. Ao mesmo tempo, aumentou o número de pessoas que não encontra melhor alternativa.

O link é este http://tv1.rtp.pt/noticias/?t=Sondagem-RTP-aponta-para-vitoria-do-PS-em-cenario-de-eleicoes.rtp&headline=20&visual=9&article=326951&tm=9

Tenho 45 anos e não me lembro de ver uma situação política em Portugal semelhante a esta.
A maioria dos portugueses considera que o Governo do PS é mau.
Paradoxalmente, a mesma maioria (os números são muito semelhantes) considera que não existem alternativas credíveis, e até se demonstra disposta a reforçar a votação no PS.
Isto porque o PSD, o outro partido que os portugueses inserem no arco da governação do País, ainda não lhes inspira suficiente confiança.
Porquê?
Acima de tudo, em virtude da imagem baça e nada mobilizadora que a actual líder transmite.
Sócrates, e o seu PS, sabem que, se o PSD conseguir acertar na escolha do líder, aproximam-se tempos conturbados para o PS.
Politicamente hábil e atento (cresceu muito neste âmbito) Pedro Passos Coelho já veio alertar os laranjas para não elegerem um líder "sisudo" (sic).
Descodificando, não elegerem um sucedâneo de Manuela Ferreira Leite.
Descodificando mais, não elegerem Paulo Rangel, ou Aguiar-Branco, demasiado colados à actual líder para serem rostos de mudança (Castanheira Barros não entra nas contas; é algo semelhante ao bardo que anima o jantar).
Passos Coelho está a apelar à eleição de um líder jovem, dinâmico, com uma imagem fresca, um Sócrates alaranjado, em resumo, ele!
Se a memória não me atraiçoa, até foram colegas na JSD.
Voltando à sondagem, o PSD também sobe nas intenções de voto.
Bem como o CDS.
O PSD porque, ainda que  a imagem da líder não inspire confiança para que os portugueses lhe confiem a governação, continua a ser o único partido que aparece como alternativa possível e viável ao PS.
CDS porque a imagem do líder é forte e porque se envolveu em causas que dão votos (aumento das pensões de reforma, redução de impostos, apoio às pequenas e médias empresas).
No pólo oposto, o Bloco de Esquerda tem um líder com uma imagem forte, mas desce nas intenções de voto.
O Bloco representa o exotismo na política portuguesa.
De quando em vez, os portugueses lembram-se que o Bloco é uma remeniscência da UDP, mais polida, mais culta, mais educada, e com uma forte liderança, e diminuem as intenções de voto no partido.
Em campanha, muito por acção do líder, e de mais dois ou três dirigentes com grande capacidade, o Bloco aumenta exponencialmente as intençãoes de voto e a votação efectivamente obtida (convém lembrar que os números que esta sondagem revela correspondem a metade da votação que o Bloco obteve).
O PCP também desce nas intenções de voto, fixando-se naquele número de fiéis indefectíveis que acompanham o partido há já trinta e seis anos.
Finalmente, o Presidente da República.
Como é hábito, o Presidente é o único político com imagem positiva.
É tradição que assim seja e é fácil perceber porquê.
Os portugueses gostam de ter um avôzinho na presidência.
E um avôzinho nunca tem má imagem ou má avaliação.
Mais a mais quando, como no regime semi-presidencialista português, esse avôzinho é uma figura pouco mais que simbólica.
Ainda que passe o tempo a debitar banalidades (vidé o discurso de Cavaco na passada semana), os portugueses simpatizam com aquela figura tutelar e inofensiva, acima de tudo exactamente por saberem que não faz mal a ninguém.
Nem pode fazer como Cavaco tão eloquontemente mostrou na entrevista supracitada (Cavaco passou o tempo a dizer o que não podia fazer).
Temos então um País descontente com quem o governa, mas que não vê alternativa.
Que, como tal, até aumentava a votação em quem não gosta.
Mas não a confiança, que essa diminui.
Que espera paciente e pachorrentamente por alternativas (outra vez um D. Sebastião...).
Que, entretanto, vai simpatizando com um Presidente que, por ser inócuo, é sempre um ombro amigo.
Presidente que, tão a seu gosto, já tem um novo tabú.

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